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Centro Histórico de São Luís: a história do abandono

A infraestrutura de alguns imóveis do Centro Histórico de São Luís é comprometida pelo tempo, a falta de manutenção ao longo dos anos, pelos fenômenos naturais, ou mesmo pela má utilização da própria população. O centro Histórico é um dos principais cartões postais da cidade, situado na área da Praia Grande, há diversos casarões datados dos séculos XVIII e XIX que ainda conservam os traços da época colonial. No entanto, a falta de conservação desses imóveis é a principal reclamação, não apenas das pessoas que moram, mas de turistas que visitam a cidade.

A capital maranhense, reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1997, possui no que chamamos de centro histórico, 3.500 construções em 250 hectares, segundo informações do Portal do governo do Maranhão. Partindo da tamanha importância histórica, por sua representatividade, além de sua função social são visíveis o descaso e abusos pela ausência de políticas públicas.

Inscrição em prédio do Centro histórico de São Luís (Foto: www.matraqueando.com.br)

Para quem desejar ir além dos registros clichês e das propagandas do poder público sobre o Centro Histórico, basta visitar o lugar para comprovar que tomado pelas ruínas, pelo lixo, com paredes, portas e janelas encobertas pela falta de cuidado. Andando pelas ruas se vê os portais que não levam a lugar algum e na ‘Cidade dos azulejos’, faltam muitos na parede, e os poucos que ainda tem estão pichados.

A moradora Sylvia Oliveira, que reside no bairro há 31 anos relata seu medo: “O que mais nos preocupa são as possibilidades de desabamento, mas rezamos para que não ocorra”, exclamou.

De acordo com a moradora, há alguns anos vários casarões foram reformados pelo poder público. Muitos foram transformados em prédios de apartamentos e outros permaneceram como estavam, pois são imóveis particulares. "Acredito que muitos desses prédios de propriedade privada têm débitos altos, razão pela qual os proprietários os abandonam dessa maneira", frisou.

Além do problema do estado dos casarões, há ainda a questão dos buracos nas ruas e falta de iluminação em diversas ruas devido à inoperância de vários postes.

Tal situação prejudica diretamente o setor turístico da cidade. Os turistas que chegam a São Luís e que conhecem o conjunto arquitetônico do Centro Histórico da capital maranhense se decepcionam com o que veem: prédios acabados sendo consumidos gradativamente pela falta de conservação.

Segundo o site de classificação, TRIPADVISOR, onde os viajantes dão uma nota e deixam comentários sobre os locais visitados às avaliações do centro histórico não são boas. Nos relatos vemos o desapontamento dos turistas.

“Por ser um Patrimônio da Humanidade mereceria maior atenção em todas as esferas. Visitei no período do São João então foi bem interessante, pois estava enfeitado. Muitos casarões de grande beleza, típicos das cidades coloniais portuguesas, mas esperava mais dos famosos azulejos tanto nas casas como no comércio como lembrança”, queixa-se um turista de São Paulo.

Em outro depoimento podemos ver a insatisfação com o descaso: “Considerando o título da UNESCO de Patrimônio da Humanidade, os casarões do Centro Histórico encontram-se, em boa parte, abandonados, depredados e abrigo para usuários de drogas. Pude notar que algumas iniciativas populares vêm tentando, mesmo que de forma sutil, limpar as ruas e fachada dos casarões.”, relata Marcelo Jorge, turista de Nova Iguaçu.

E são fatores como esses que causam o esvaziamento do Centro Histórico da cidade, uma vez que na região não há muitos atrativos que convidem as pessoas a explorarem o ambiente, apenas durante a noite que o local recebe um público maior. Durante o dia e aos finais de semana a região fica praticamente vazia. A falta de segurança na localidade também contribui para afastar as pessoas da região.

São necessárias ações realizadas de forma conjunta pelos órgãos públicos e iniciativa privada para que o Centro Histórico de São Luís volte a ser frequentado em todos os períodos e garanta o acesso à cultura local e a memória do povo maranhense. Tais ações incluem atrativos estéticos, culturais, comerciais entre outros que estimulem as pessoas a irem ao local e ainda melhorias na mobilidade urbana que facilitem a locomoção das pessoas até a região.

A proteção do patrimônio tem fins sociais, culturais, econômicos, históricos, que afirmam a verdadeira identidade do povo maranhense; e que dependem não só de políticas públicas, mas também da conscientização populacional quanto ao seu valor para que as próximas gerações tenham acesso a esse patrimônio, podendo valorizá-lo e respeitá-lo. A própria cultura, incluindo os bens materiais, define o que somos hoje e é reflexo do que a nossa sociedade foi no passado, do seu modo de viver e de ver o mundo.

De maneira geral, existe um plano de recuperação do Centro Histórico que começou a ser executado na década de 70, a partir do qual se construiu a barragem do Rio Bacanga e da ponte do Rio Anil, como forma de possibilitar a expansão da cidade para que não houvesse grandes modificações no cenário urbanístico que pudessem descaracterizá-lo. Buscou-se também, desviar o grande fluxo de carros que ocorriam pelas ruas estreitas do centro, com a inauguração do Anel Viário, em 1979. Já no ano de 1987, tal programa de recuperação foi nomeado de Projeto Reviver, recebendo milhões de reais para que restaurações fossem feitas.

Porém, tais providências não foram suficientes para sanar o problema da má conservação das construções e muitas delas já tiveram sua estrutura praticamente toda comprometida, ficando impossibilitada a sua recuperação; pois a má utilização das dependências dos casarões vem desde a não manutenção da estrutura física destes, até a sua utilização como estacionamentos, obviamente irregulares, que acabam por ameaçar, ou até mesmo danificar a sua estrutura.

Ruínas de prédio colonial transformado em estacionamento particular

Junto a isso, muitos prédios e casarões decorrentes do tombamento das propriedades existentes nessa área de proteção são propriedades privadas e seus particulares, em sua maioria, não têm condições de mantê-las devidamente conservadas, mas ainda assim, deveria ser interesse do Poder Público, a conservação desses patrimônios.

Tais ações são possíveis de ser colocadas em prática a curto, médio e longo prazo para que haja a revitalização

econômica e urbana do Centro Histórico de São Luís com o intuito de trazer vida para a região que dispõe de um grande potencial.

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