Um projeto esportivo dá novas possibilidades para as crianças dos bairros Vila Conceição e Ilhinha, em São Luís
Na infância é muito comum a prática de esportes. Do futebol ao judô, a maioria das crianças já passaram por um momento de contato com essas atividades físicas, quando chegam a uma idade em que precisam ter mais obrigações com estudos e cursos, acabam tendo que largá-las. Mas essa não é a realidade de todas as crianças. Algumas não têm oportunidade de praticar esportes como lazer, e enxergam neles uma espécie de boia salva-vidas, uma maneira de se distanciar da realidade em que vivem.
Também, sem condições adequadas para estudar, muitas crianças acabam se envolvendo com a criminalidade deixando de lado os sonhos de ter uma vida melhor. Aqui que o esporte entra como um “salva vidas”, ele ajuda essas crianças a se afastarem de más influências e a ocuparem suas mentes. Porém, a prática de esportes não é algo tão fácil. Nem sempre é possível ter acesso a centros esportivos e o incentivo necessário para os manter.
Por isso, projetos sociais esportivos se tornaram essenciais para a melhoria e a segurança de crianças em comunidades, como é o caso da ONG Valorizar, que atua nos bairros Vila Conceição e Ilhinha, em São Luís, Maranhão, locais com grande índice de criminalidade.
O projeto, que existe desde 2011, consiste em possibilitar o acesso ao esporte para as crianças da comunidade. Participando do projeto, eles começam a treinar a natação e podem participar de competições, estaduais, regionais e nacionais.
A ONG Valorizar
Iniciada em 2011, a ONG Valorizar possui projetos que mudam a vida de inúmeros jovens. O projeto conta com a participação de educadores físicos, assistentes sociais, psicólogos, advogados, médicos e professores, todos com o intuito de proporcionar uma melhor qualidade de vida para as crianças. Além da natação, eles contam com outras diversas atividades nos contra turnos vespertino e noturno.
Com mais de 200 crianças, a ONG vive apenas de doações de patrocinadores, sem fundos públicos, não podendo ampliar, por enquanto, para as 150 crianças que permanecem na lista de espera, pois não possuem dinheiro para bancar.
O projeto se iniciou a partir de um desejo de igualdade diante de toda injustiça e descaso com os moradores dessas comunidades. Com apenas 50 alunos, a ONG deu início a um projeto que viria a mudar e melhorar a vida de tantas crianças.
“A gente tem aqui vários garotos que se influenciam e acabam entrando no mundo das drogas, e o projeto está focado nisso, em tirar essas crianças da rua e ocupar a mente delas com o esporte, o lazer. ”, avalia João Victor dos Santos, 16 anos, um dos atletas do projeto. Para ele, a ONG é de suma importância justamente pelo local em que ela se encontra, dando focos diferentes para esses jovens e os afastando da criminalidade.
[endif]--Mesmo situada em um bairro da periferia e sem muitos luxos, a ONG está conseguindo alcançar os seus principais objetivos, de poder ajudar a vida de cada criança envolvida com o projeto e poder transformá-las em bons cidadãos. “Os números demonstram que ao longo dos anos colaboramos no nível da escolaridade. 15% estão chegando ao ensino superior, 20% ensino profissionalizante”, assegura Mário Aguiar, diretor geral da ONG Valorizar e educador físico. “Formamos atletas campeões maranhense, Norte Nordeste e brasileiro, ajudamos na melhoria da auto estima, e vemos a comunidade formando seus próprios heróis”, orgulha-se. ![endif]--
Treino no Centro Aquático
O projeto na vida das crianças
O projeto realizado pela Ong Valorizar vem ajudando jovens e crianças através de práticas esportivas e palestras educativas de uma forma em que eles consigam perceber que o esporte ainda pode ser o caminho certo para superar os problemas que vivem. “Ele me proporcionou realizar meus sonhos de ser um grande atleta, e de estar representando o Maranhão”, reconheceu João Victor. Esse projeto enxerga através do esporte o meio de inclusão social e a forma como a atividade física desenvolve uma consciência mais coletiva para as crianças e jovens.
Lucas Santos Rodrigues, 16 anos, ex-aluno da ONG, participou desde seus 7 anos e comentou que o projeto o ajudou a manter a cabeça no lugar, aprender sobre organização, a trabalhar em equipe e respeitar os outros. Do mesmo modo como proporcionou a ele a oportunidade de viajar e conhecer novos estados.
“Você encontra
crianças carentes,
não só
financeiramente,
mas também
de um simples
abraço,
de conversar
e dizer
‘E ai,
tudo bem?’”
(Noany Rego, 20 anos, voluntária da ONG Valorizar)
Alunos do projeto da ONG Valorizar
[endif]--Mesmo assim, ainda ocorrem situações de conflito com alguns jovens, mas para isso, a ONG possui uma equipe para ajudar essas crianças e jovens a se relacionarem com o projeto. “Todo começo de temporada precisamos intensificar os procedimentos e entendimento das regras, direito e deveres no serviço de convivência. Temos alunos em medidas sócio educativas, abandono ou evasão escolar e medidas protetivas (violência, etc.). Todos esses casos temos ação específica”, explicou Mário Aguiar sobre as de dificuldades com alunos.
Essas dificuldades não são causadas apenas pelas condições sociais e econômicas, mas também pela falta de amparo familiar que muitas dessas crianças passam. Noany Rego, voluntária do local, expõem que essas crianças também são carentes de conversas, abraços, carinhos e preocupação, e é isso que a ONG oferece, além dos esportes.
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Com todos esses auxílios, os atletas mais antigos já passam a ter novos objetivos, que não seriam alcançados se não fosse a ONG. João Victor declarou que seu próximo passo é conseguir conquistar uma medalha no campeonato brasileiro. “A gente já está progredindo. Estávamos em quinto no ranking do Brasil, mas ainda não consegui chegar entre os três melhores, então estamos trabalhando para que no final do ano eu consiga cumprir esse objetivo”, acredita João, que já foi campeão maranhense e Norte e Nordeste.
Esporte como direito de todos
Segundo a Constituição Federal de 1988, artigo 217, é “dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um”, porém há uma carência de projetos públicos nos bairros de São Luís, fazendo-se necessário a existência de órgãos não governamentais, como o Valorizar. Para o diretor geral da ONG, “os esportes são ferramentas importantes de formação de crianças e adolescentes, deveria ser prioritário em políticas públicas. O esporte traz responsabilidade, organização e respeito às regras sociais”. Ele também afirma que é necessário a existência de espaços públicos para a prática do esporte sistematizado de profissionais nesses locais responsáveis pelos programas, para então existir uma política pública de qualidade. A ONG Valorizar vem crescendo e trazendo novas esperanças para esses jovens que não tinham muitas perspectivas e oportunidades. Hoje, eles estão longe da criminalidade e ganhando novo foco e sentido para suas vidas. Com mais de 200 crianças, a entidade mantém-se apenas com doações de patrocinadores, sem fundos públicos. Por enquanto, ainda não pode ampliar sua capacidade para as 150 crianças que permanecem esperançosas na lista de espera, por falta de recursos financeiros.
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